Enfermagem Ecológica, da teorista Rosalda Paim, aplicável às Infecções Hospitalares
Todo sistema só pode existir no ambiente.
Não existe sistema sem ambiente.
A única exceção, o único sistema sem ambiente é o Universo, a menos que se o considere finito.
Os sistemas abertos se relacionam com o respectivo ambiente, afetando-se mutuamente.
A totalidade das relações entre um sistema e o seu ambiente podem ser sintetizadas como um
conjunto de trocas que se processam entre ambos.
Por sua vez, este conjunto de trocas pode ser traduzido e sintetizado como um continuo e permanente intercâmbio de "matéria energia e informações".
O ser humano, como sistema aberto, intercambia matéria, energia e informações com o seu ambiente.
Ao sentir a necessidade da implantação de uma metodologia científica nas atividades de enfermagem e do enfermeiro e, constatar que o reducionismo que impregnava as teorias de enfermagem, até então existentes, constituía um fator impediente para a sua consecução, Rosalda Paim, construiu uma teoria de caráter mais abrangente, através do qual, a função do enfermeiro não se restringe a prestar cuidados ao corpo do doente, alcançando, também, o ambiente em que este se insere, acrescidas das relações que ocorrem entre um e outro, constituindo-se a enfermagem ecológica.
Como já nos referimos, tais relações se traduzem, necessariamente, em trocas entre o cliente e o seu entorno.
Por outro lado, demonstrou-se que a rotina das atividades hospitalares se caracterizavam pela falta de integração da equipe multiprofissional de saúde e conseqüente dispersão dos seus esforços, comprometendo a segurança do cliente, o que tornava exigível a adoção de um mecanismo integrador, ao mesmo tempo em se evidenciou que, pelas características dos seus papeis profissionais, caberia ao enfermeiro a tarefa de integração das relações do paciente com o seu entorno, como já se disse, sintetizadas como um conjunto de "trocas de matéria, energia e informações entre ambos."
Diante do exposto, foi estabelecido, entre os postulados da Teoria Sistêmica, Ecológica e Cibernética, o seguinte:
Princípio de Administração das Trocas
No sistema de saúde, a coordenação e a integração do processo de compatibilização dos intercâmbios de "matéria, energia e informações" que se realizam entre o ser humano e o ambiente respectivo, constitui atribuição, predominantemente, do enfermeiro.
- O enfermeiro administra (coordena, integra, controla, avalia e reajusta) o processo de trocas de matéria, energia e informações entre o sistema humano e o ambiente, objetivando a consecução do maior nível de homeostasia ou o menor nível do seu desvio, permissível pelo seu potencial genético, história individual e social e, condições ambientais presentes, até a extinção do processo vida, além de administrar cuidados na fase inicial do pós-morte (Princípio de Extrapolação do Ciclo Vital), o que corresponde a aspecto da "Adequação do Ambiente".
- A otimização do processo comunicativo, em dupla via (troca de informações) entre o paciente e o enfermeiro constitui elemento facilitador do diagnóstico de enfermagem e da adequação da assistência de enfermagem às necessidades de cuidados apresentadas pelo paciente.
- As trocas de informações entre o ser humano e o ecossistema podem ser representadas diretamente por fenômenos físicos, químicos ou físico-químicos que constituem os sistemas signos.
- As trocas de informações intersubsistemas do organismo humano, como se exemplifica pela ação dos neurotransmissores, sendo mediadas por fenômenos físicos, químicos ou físico-químicos, constituindo verdadeiros sistemas signos.
Vejamos, agora, a aplicabilidade do Princípio de Administração das Trocas, da Teoria Sistêmica, Ecológica e Cibernética de Enfermagem, no caso específico das Infecções Hospitalizares que constitui um fenômeno endêmico em nossos hospitais, com o que infelizmente já se acostumou, mas eis que irrompe um surto epidêmico no Hospital de Bonsucesso, fato que vem caracterizar um evidente fracasso do processo de administração das trocas entre os doentes e o ambiente,
possibilitando a invasão de microorganismos patogênicos no corpo do paciente hospitalizado (aporte de matéria), por inadequada atuação sobre o ambiente hospitalar, resultante da não aplicação do Princípio de Adequação do Ambiente, da referida teoria.
Aqui abro um parêntese para expressar que o Hospital de Bonsucesso é uma instituição muito cara e saudosa, pois ali vivi um ano inteiro, dia e noite, em 1972, realizando meu internato, como acadêmico do sexto ano de medicina, sob a orientação dos Drs. Alvariz, Sergio Miranda, da Dra Dayse e outro Dr. Sérgio, além de vários preceptores e prezados amigos, agora, com tristeza, tomei conheciment9o de que esta "residência" querida se acha assolada por uma epidemia de infecções hospitalares, inclusive com vítimas fatais.
Vejamos, a seguir, o que postula o:
Princípio de Adequação do Ambiente
Com o propósito de facilitar o equilíbrio das trocas de matéria, energia e informações entre o ser humano e o ambiente, as ações de enfermagem se exercem, também, no sentido de ajustar o meio às necessidades das pessoas.
Portanto, o enfermeiro, além de exercer suas ações no corpo do paciente (sistema humano), atua, simultaneamente (segundo o Princípio das Aões Simultâneas, da mesma teoria), também, sobre o ambiente em que o mesmo se acha inserido.
Corolários:
- A adequação dos vestimentas, do leito, dos consultórios, das enfermarias e outros elementos próximos, constituem aspectos do "Processo de Adequação do Ambiente".
- O equilíbrio do ambiente de trabalho, de lazer e outros representam detalhes do "Processo de Adequação do Meio".
- As medidas de saneamento básico e de organização e administração do sistema de trânsito constituem procedimentos de Adequação do Ambiente.
- A ação do enfermeiro no controle de infecção hospitalar, como partícipe ou não de Comissão Específica, constitui um detalhe da "Adequação do Ambiente".
- A Educação em Saúde às pessoas (sadias ou doentes), família ou comunidade; o treinamento em serviço (pessoal serviçal e de enfermagem) e a educação continuada das ações protetoras do meio ambiente hospitalar, fazem parte da função do enfermeiro no "Processo de Adequação do Ambiente".
- O equilíbrio ou desequilíbrio do ambiente, a sua adequação ou inadequação afetará as relações de trocas de matéria, energia e informações e, por esta via, contribui para assegurar as condições de homeostasia do organismo ou para provocar desvios dessa condição.
- A "Adequação do Ambiente" é um pressuposto básico para harmonia das trocas e o conseqüente equilíbrio ou homeostasia do organismo.
- As trocas de matéria, energia e informações poderão ser adequadas ou inadequadas em função da favorabilidade ou não do ambiente.
- As ações de enfermagem dispensadas à adequação do ambiente constituem medidas facilitadoras das trocas entre o organismo e o meio, capazes de contribuírem para a promoção, proteção ou restauração da homeostasia.
A elaboração de uma Lei Estadual sobre a criação de Comissões de Infecção Hospitalar é coerente com o Princípio de Adequação do Ambiente da Teoria Sistêmica Ecológica Cibernética de Enfermagem, prescrevendo que os cuidados do enfermeiro transcendem o corpo do doente, para atingir o ambiente, o que caracteriza a enfermagem ecológica, proposta por Rosalda Paim.
A abrangência da teoria e a postulação de uma visão sistêmica do ser humano, da enfermagem e do ambiente, justificam a designação de sistêmica, enquanto o seu alicerce no funcionamento cibernético do organismo, dotado de inúmeros mecanismos de "feedback", justificam o advento de uma enfermagem cibernética.
Os Princípios de Administração das Trocas e o de Adequação do Ambiente, constitui uma decorrencia do:
Princípio das Ações Simultâneas
A enfermagem e o enfermeiro devem, sempre, cuidar do corpo da pessoa humana e, simultaneamente, efetuar a adequação do seu ambiente imediato. a fim de facilitar o processo de trocas de "matéria, energia e informações" entre ambos.
Corolários:
A enfermagem busca promover, preservar ou restaurar o equilíbrio do organismo humano, atuando diretamente sobre o mesmo e, simultaneamente, sobre o se u entorno, adequando-o, com a finalidade de favorecer a harmonia das contínuas trocas de matéria, energia e informações que se processam entre o homem e o ambiente:
Todas as relações do homem com o meio físico, biológico, tecnológico e social podem ser, pois, analisadas em sua dimensão ecológica.
- O meio ambiente pode e deve ser considerado como extensão do nosso próprio corpo, como já o são os instrumentos que utiliza.
- O equilíbrio do ambiente resulta, por sua vez, de nossas ações ou omissões em relação ao mesmo.
O ambiente é, pois, tudo que está situado externamente em relação ao corpo ou ao sistema considerado, isto é, tudo que nos cerca.
Na realidade, ao tomarmos em consideração um ser humano, o resto é o seu ambiente.
- Os desequilíbrios do ecossistema dificultam as condições do estado de homeostasia do organismo humano, já que inexiste descontinuidade absoluta entre o homem e o meio.
Os princípios mencionados e, seus corolários, caracterizam a Enfermagem Ecológica, expressa na Teoria Sistêmica, Ecológica e Cibernética, de Rosalda Paim, consubstanciada no
Princípio da Enfermagem Ecológica
O ser humano e o ambiente correspondem, cada qual, a um sistema, afetando-se reciprocamente, através de um processo contínuo e permanente de trocas de "materia, energia e informações" e formam, em conjunto, um sistema misto (sistema homem/ambiente) que a enfermagem não pode, nunca, abordar de maneira dissociada.
- O homem está intimamente interligado e interrelacionado com o ecossistema, de modo que o ambiente contíguo, imediato ao seu corpo, pode ser considerado como a própria extensão do mesmo.
- Das relações harmônicas ou inadequadas entre o homem e o ambiente podem resultar em situações equilíbrio ou de desequilíbrio para um ou outro, ou para um e outro.
- A roupa, o leito, a enfermaria, o lar, o ambiente de trabalho ou de lazer, os meios de transporte e, outros componentes ambientais, influem nas condições de equilíbrio/desequilíbrio do ser humano.
- O enfermeiro deve atentar para todas as formas de poluição do ambiente que possam resultar em intercâmbios inadequados e comprometer a homeostasia da pessoa assistida.
A motivo que conduziu à publicação desta postagem, foi o "gancho", infelizmente, proporcionado pela matéria seguinte:
Superbactéria já contaminou pelo menos 40 pessoas no HGB
Flávia Junqueira e Gabriela Moreira - Extra
RIO - Laudos de exames laboratoriais feitos em pacientes do Hospital Geral de Bonsucesso, aos quais o EXTRA teve acesso, revelam que a bactéria Enterococcus faecium contaminou, pelo menos, 40 pessoas. O número pode ser ainda maior, já que os nomes constam de análise feita somente entre 1º e 10 de outubro. Na terça-feira, uma paciente de 15 anos internada no CTI com meningite e contaminada pela superbactéria morreu.
Documentos do hospital também mostram que, em setembro do ano passado, pelo menos três pacientes já haviam sido identificados como portadores da bactéria. A Enterococcus faecium é resistente ao antibiótico vancomicina, um dos mais fortes no tratamento de infecções bacterianas. A identificação dos últimos casos de contaminação levou o HGB a fechar a emergência na última quinta-feira .
" Chegamos a ter um total de 29, mas muitos já receberam alta "
A diretora do hospital, Sandra Azevedo, negou que a unidade tenha contabilizado um total de 40 pacientes contaminados. Depois de contestada, ela disse que o HGB chegou a diagnosticar 29 casos, mas parte deles já teria recebido alta. Esse número, no entanto, ainda não havia sido divulgado antes. Atualmente, segundo a diretora, 16 pacientes internados estão contaminados e outros quatro são suspeitos. Até segunda, o HGB só havia divulgado 15 casos.
- Em momento algum tivemos 40 pacientes. Chegamos a ter um total de 29, mas muitos já receberam alta. No momento, tenho 12 contaminados no quinto andar, quatro no CTI e outros quatro com fortes suspeitas, na emergência. Todos estão isolados - afirmou Sandra.
Você pode ver a reportagem completa e a reprodução dos documentos que comprovam a contaminação na edição do jornal EXTRA desta quarta-feira.
Fonte: Extra Globo
http://extra.globo.com/saude/materias/2007/10/17/298182746.asp
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